terça-feira, 26 de novembro de 2013

Rio: CPI da Exploração Sexual quer que TJ reavalie penas de acusados






Os casos apresentam circunstâncias semelhantes e um acusado em comum, Fernando Marinho de Melo, que já foi condenado a dois anos e três meses de prisão, convertidos em prestação de serviços comunitários, pelo furto de Larissa e sequestro de um outro menor, que conseguiu fugir e fazer o reconhecimento de Fernando na polícia. 


CPI da Exploração Sexual ouve mães que perderam as suas filhas
CPI da Exploração Sexual ouve mães que perderam as suas filhas

A relatora da CPI, deputada federal Liliam Sá, disse que os depoimentos das mães apontam para crimes em série contra meninas de famílias carentes, residentes em diversos bairros do Rio. Segundo a deputada, as sete mães que foram ouvidas nesta segunda afirmam que as suas filhas continuam desaparecidas e elas questionam as investigações conduzidas pela polícia do Rio e as decisões judiciais. "No caso da menor Amanda Nascimento Gonçalo, por exemplo, que foi sequestrada em 2002, no Bairro de Fátima, o criminoso confessou que matou a menina e, no entanto, esteve preso e já está solto. O mesmo está acontecendo com o acusado Fernando Marinho de Melo, que somente hoje foi citado em três casos, da Michele, da Larissa e da Thaís. Ele foi condenado a dois anos e três meses por dois crimes, o que já é questionável e, mesmo assim, a sua pena foi revertida a serviços comunitários e ele está solto. Isso é um absurdo!", disse Liliam Sá.

A deputada informou que nesta terça-feira (26) se reunirá com o superintendente-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, para apresentar um relatório das audiências realizadas pela equipe da CPI e pedir intervenção da PF nos casos em que Fernando é citado, considerando que ele presta serviços para a Marinha do Brasil. Liliam também vai pedir novas investigações federais sobre as ossadas de crianças que foram encontradas recentemente em um terreno da Aeronáutica, na Avenida Brasil. "A CPI procurou o desembargador Paulo Rangel, no Tribunal de Justiça do Rio, para entender o que está acontecendo com as investigações desses casos, porque temos relatos e registros policiais datados desde 2001 e nenhuma medida efetiva foi tomada e os criminosos continuam soltos. Precisamos de procedimentos urgentes da Justiça. Vamos solicitar uma reunião com a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, para pedir que todos os registros policiais desses casos e que estão espalhados em diversas delegacias da cidade, sejam concentrados num só relatório e de forma ordenada, assim podemos entrar com processos de acordo com os acusados e suspeitos, como acontece com o Fernando, que é citado em várias ocorrências em tempos distintos", afirmou a deputada.

Na audiência realizada na semana passada pela CPI, em Brasília, a promotora titular da 32ª Promotoria Criminal do Ministério Público do Rio, Márcia Colonese, apresentou detalhes sobre as investigações envolvendo as meninas desaparecidas no Rio. Ela disse que a pequena Larissa foi sequestrada no dia 31 de janeiro de 2008 de dentro de sua casa, em São Cristóvão e o acusado, identificado como Fernando Marinho de Melo, teria se apresentado como um técnico de TV. Segundo depoimentos de um primo da menor e de outras testemunhas, o homem carregou a criança com a TV e a colocou em um táxi. Colonese afirmou que Fernando foi reconhecido pelo primo de Larissa, pelo taxista e mais outras pessoas que testemunharam a cena. Segundo ela, o acusado presta serviços para a Marinha e “sai do navio para fazer as vítimas, conhece seus passos, estuda as vítimas para dar o bote certo”. E ainda traçou um perfil de Fernando: “Ele é matador, estuprador e pedófilo”.


Deputada Liliam Sá (ao centro), relatora da CPI, com as mães que tiveram as suas filhas sequestradas no Rio de Janeiro
Deputada Liliam Sá (ao centro), relatora da CPI, com as mães que tiveram as suas filhas sequestradas no Rio de Janeiro
Dossiê do Portal Kids revela detalhes dos crimes 
Os casos das meninas desaparecidas no Rio estão reunidos num dossiê de 40 páginas, produzidas pela presidente do Portal Kids, Waltéa Ferrão. As apurações de Waltéa tiveram início em 2001, com o caso de uma menina de 10 anos, que era moradora de Realengo, na Zona Oeste. A garota desapareceu quando levava um primo pequeno para a escola e o caso foi investigado pela Divisão de Homicídio, mas ninguém foi preso ou acusado. No ano seguinte, Waltéa conta que acompanhou mais dois casos bem semelhantes. Um foi o da menina Michele, levada por um homem, também na Zona Oeste, quando ela estava indo ao mercado na companhia de um primo de quatro anos. O segundo episódio foi de Thaís Lima, na época com 9 anos, que foi levada de dentro de casa, também por um homem que se identificou como Técnico de TV. Dias após o sequestro de Thaís, a polícia civil divulgou o retrato falado de Fernando e ao passar por uma banca de jornal, o menor que presenciou o sequestro de Michele, reconheceu Fernando em uma reportagem, como sendo o "homem que a levou a Michele".
O nome de Fernando é citado em muitos outros registros policiais envolvendo furto de crianças, que Waltéa utilizou para cruzar informações no ano de 2005. Segundo ela, dois dias antes da menor Roseana Aparecida Alves, de 12 anos, desaparecer no bairro de Honório Gurgel, uma colega da mesma turma escolar também passou por uma tentativa de sequestro, mas a ação não teve registro policial. "Nós procuramos a família dessa menina e mostramos várias fotos de suspeitos. Ela reconheceu o Fernando", contou a presidente Portal Kids. 

Para Waltéa, os trabalhos das CPIs da Exploração Sexual e do Tráfico de Pessoas e Órgãos, que citam o nome de Fernando e de outros acusados de sequestro de menores no Rio, abriram novos caminhos para uma investigação mais aprofundada sobre os casos. Ela comentou que no ano de 2006, a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) avançou bastante nas investigações e apresentou um levantamento, comprovando que cerca de 200 meninas haviam sido enterradas como indigentes em cemitérios da cidade naquele ano. "Nesse período, estávamos procurando por sete crianças. Então, a delegacia fez um pedido para peritos de Brasília realizarem exames de DNA, comparando o material genético extraído dessas ossadas os fornecidos pelas mães que estavam procurando por suas filhas. Mas, infelizmente, esse trabalho não foi concluído devido as mudanças internas na Polícia Civil.", contou Waltéa. 

Mães e parentes aguardam há anos por justiça 
Elisabeth Lima contou que a pequena Thaís Lima foi levada pelo sequestrador de dentro de casa, na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, no dia 22 de dezembro de 2002. Um primo de 11 anos que brincava com Thaís viu toda a cena e contou para a sua família que viu o homem levando a menor. A polícia civil fez um retrato falado pelas descrições dadas pelo menino e ele mesmo reconheceu Fernando quando foi chamado na delegacia. "Quando o primo dela foi chamado na delegacia para fazer o reconhecimento, os policiais não chamaram um psicólogo para orientar e acalmar o menino e quando ele viu o Fernando do outro lado do vidro, disse que não o reconhecia, porque ficou com medo, achou que o homem também estava vendo ele do outro lado. Quando a gente estava retornando para a casa, ele contou a verdade, que tinha sido aquele homem que levou a minha Thaís", contou Elisabeth, que voltou à delegacia e mudou o depoimento do menor. 


Elisabeth disse que o trabalho do Portal Kids tem sido fundamental para a sobrevivência das mães que perderam as suas filhas e também uma esperança de que a Justiça vai prevalecer. "Nós não temos paz, porque não sabemos o que aconteceu com as nossas filhas. É um sofrimento enorme. Mas quando nos encontramos no Portal Kids a gente consegue um certo alento, porque conhecemos a história de cada mãe e uma dá força para a outra. Então, as funções da entidade vão além da questão da investigação, também dá suporte psicológico", disse Elisabeth. 

A autônoma Raquel Gonçalves, de 42 anos, convive diariamente com o dor da perda e o medo de uma represália. Ela acredita que a sua sobrinha criada por ela desde o nascimento, a pequena Larissa Gonçalves, tenha sido levada por Fernando Marinho de Melo para outro país e deve ser vítima de uma rede de prostituição. "Pelo que eu conheço dos outros casos, eu acho que este homem entrou dentro da minha casa para pegar a Larissa e levá-la para a exploração sexual. Eu ainda tenho uma fraca esperança de encontrá-la. Mas quando ela foi sequestrada, nem menstruava ainda, então, não sei se ela conseguiu resistir às violências. Outras meninas apareceram mortas, mas eu quero saber o que aconteceu com a Larissa e o paradeiro dela. É um direito da família", disse Raquel.

Fonte:Jornal do Brasil Cláudia Freitas

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